segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Estudo revolucionário pode resultar na descoberta de vacina contra Aids

Estudo revolucionário pode resultar na descoberta de vacina contra Aids

Brasileiros colaboram na pesquisa. Se eficácia for comprovada, Brasil pode assumir dianteira na produção da vacina.
Uma grande notícia é assunto de uma das mais conceituadas publicações científicas do mundo. Pesquisadores, inclusive brasileiros, participaram de um estudo revolucionário que pode resultar na descoberta de uma vacina contra a Aids, uma doença que mata 2,5 milhões de pessoas ao ano.

Há 16 anos, um homem surpreendeu os cientistas que pesquisavam Aids. Eric Fucks viveu os anos loucos quando a epidemia começou a se espalhar em Nova York, mas nunca desenvolveu a doença. Foi o primeiro identificado com uma característica genética que não impede a contaminação, mas bloqueia a reprodução do vírus no organismo. Um mistério, mas não um milagre.

Hoje os cientistas já sabem que uma em cada 300 pessoas tem essa característica genética que impede o desenvolvimento da Aids, a doença, em pessoas contaminadas com o vírus HIV. Mas como funciona essa proteção? Qual é o mecanismo por trás dessa característica? E como transformar isso num benefício para todos? As respostas começaram a surgir em uma pesquisa com a colaboração de brasileiros

A pesquisa liderada pelo americano David Watkins teve participação fundamental de cientistas da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio. Eles usaram a vacina contra febre amarela, que foi desenvolvida no Brasil, como base para criar outra, contra a Aids dos macacos, provocada pelo SIV, variante do HIV, que causa a doença entre os bichos.

O resultado, publicado na edição deste domingo (30) da Nature, a revista científica mais importante do mundo, pode mudar os rumos da busca por uma vacina contra Aids.

Na equipe, um jovem de 24 anos, que ainda nem terminou a faculdade. “Nossa vacina é baseada em engenharia genética. Toda essa parte da construção dos compostos fui eu que fiz”, conta Marlon Santana, bolsista da Fiocruz.

A engenharia genética funcionou assim: apenas um milésimo do DNA do vírus do SIV foi incorporado à vacina da febre amarela, justamente o pedaço que os cientistas acreditavam estar ligado à resistência contra o vírus.
Oitenta macacos resus foram vacinados e depois expostos ao vírus em um laboratório em Miami. Todos desenvolveram a proteção natural. E o mistério começou a ser desvendado.

Normalmente, quando entra na corrente sanguínea, o HIV invade as células brancas do sangue e cola o seu DNA no da célula, que passa a produzir centenas de cópias do invasor. É a fábrica de vírus, que são liberados no sangue para invadir outras células e continuar se reproduzindo e tomando conta de todo o organismo. Quarenta e oito horas depois de contaminada, e de ajudar a produzir milhares de vírus, a célula de defesa morre e a pessoa contaminada fica exposta às infecções provocadas pela Aids. Nos macacos vacinados, foi diferente.

“Eles têm células assassinas contra o vírus. Eles estão destruindo a fabrica do vírus dentro dos macacos”, explica Watkins.

A vacina estimulou a produção de células T, as células assassinas, porque elas identificam o glóbulo branco contaminado, colam nele e despejam uma substância que provoca a morte do glóbulo branco antes que o vírus comece a se reproduzir. É a capacidade de produzir essas células T que evita a infecção.

“O que precisamos agora é entender porque essas células T em particular são tão eficientes em controlar o vírus. Se entendermos isso, aplicaremos os mesmo princípios na vacinação para humanos”, diz o cientista.

É um novo conceito de vacina, diferente da tradicional, que estimula a produção de anticorpos.

“Nós não estamos resolvendo o problema, mas nós estamos ajudando a nortear por onde o desenvolvimento de uma vacina da AIDS tem que seguir”, acredita.

E se esse caminho levar à vacina, o Brasil estará numa posição privilegiada. Como o maior produtor mundial de vacina de febre amarela, poderá ter também a dianteira na produção de uma vacina contra a Aids.


fonte: globo.com

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